domingo, 20 de agosto de 2017

Mestre Jesus




Quando  Jesus  nasceu?

Valdemiro  Vieira


          WIKIPEDIA. Brooklyn_Museum_O retorno do menino Jesus do Egito_James_Tissot_overall.jpg           








Quando  Jesus  nasceu?
Valdemiro Vieira



A cronologia da vida de Jesus não é encontrada, diretamente, nos Evangelhos. Ou seja, datas do nascimento, início de seu ministério público, da morte, enfim, da duração de sua vida terrena, não são representadas pelos evangelistas da forma que se esperaria de uma biografia clássica. Essa carência resulta do gênero literário dos Evangelhos e do modo como foram compostos, baseados numa catequese oral que narrava os episódios da existência de Jesus e seus ensinamentos em contextos isolados e não no âmbito de um perfil biográfico. No entanto, existem nos Evangelhos alguns dados a partir dos quais podemos deduzir a extensão do período de tempo no qual podem-se situar os extremos de sua vida - por exemplo, de quando Herodes, o Grande, ainda vivia (isto é, antes de 4 a.C.) até quando Pilatos ainda era procurador romano na Judeia (vale dizer, não depois de 36 d.C.). É possível uma reconstrução do quadro cronológico, a partir de certos dados evangélicos precisos, e com o auxílio de alguns cálculos astronômicos baseados na data da Páscoa hebraica, na véspera da qual Jesus foi crucificado.

O ano em que Jesus nasceu pode ser calculado em função de dois dados evangélicos: alguns anos antes da morte de Herodes (Mateus, 2:1-19); por ocasião de um recenseamento, promovido por Públio Sulplício Quirino (Lucas, 2:2).

Deduz-se o ano da morte de Herodes, o Grande, de diversas informações fornecidas pelo historiador judeu Flávio Josefo, referentes tanto à duração de seu reinado (37 anos desde a nomeação, ocorrida em Roma no 714º ano dessa cidade, isto é 40 a.C. - Antiguidade Judaica XVII, 8:1; Guerra Judaica I:33-8), como à duração do governo de seus sucessores (Antiguidade Judaica VII:13-2; XVIII:4-6). Herodes morreu no ano 750 da fundação de Roma (4 a.C.), algum tempo depois de um eclipse lunar que iluminaria com sinistras luzes a morte da fogueira de alguns atrevidos (espalhado o boato que o rei morrera, estes haviam derrubado a águia de outro que Herodes fizera colocar sobre a porta do templo), e cerca de dez dias antes da festa da Páscoa (Antiguidade Judaica XVII, 6:3-4; XVII:8, 4-9). A astronomia confirma que um eclipse lunar foi visível em Jerusalém na noite de 12 de março de 4 a.C. e que a Páscoa daquele ano, ou seja, o plenilúnio de primavera (no hemisfério norte), ocorreu em 11 de abril. Nessa data, Jesus já devia ter nascido há pelo menos dois anos, de acordo com os acontecimentos narrados por Mateus 2, na hipótese de que tenham alguma substância histórica. De fato, os magos, indo a Jerusalém para presentear o Messias recém-nascido, lá encontraram Herodes, quando se sabe que, no princípio de inverno de 5 a.C., adoentado, este se transferiu para Jericó e, por algum tempo, para as termas de Calliroe, no Mar Morto. Por outro lado, Herodes, calculando a época desde o nascimento de Jesus e talvez exagerando, por garantia, fez matar todos os meninos de dois anos para baixo. Deve-se computar, também, o período durante o qual José e Maria, com o menino Jesus, permaneceram refugiados no Egito, até a morte de Herodes. Essas considerações nos levam  a situar o nascimento de Jesus nos anos 7 ou 6 antes de nossa era e, portanto, se não fosse uma paradoxo, poderíamos dizer em 7 ou 6 anos "antes de Cristo".

A contradição nasce de um erro no cálculo da era cristã, que começou a ser usado somente no século VI. Antes disso, as datas partiam da fundação de Roma (753 a.C.) ou da era de Diocleciano, dita a "era dos Mártires" (a partir do ano 284 d.C.). O cômputo que fixou o início da era cristã em 25 de dezembro de 753º ano) deve-se ao monge Dionísio, o Pequeno, que trabalhou em Roma entre os anos 500 e 545, traduzindo do grego para o latim obras de cultura eclesiástica. Ao elaborar uma tabela, muito útil, dos ciclos pascais (ou seja, que fixava a data da Páscoa numa longa série de anos), ele usou pela primeira vez a expressão "era cristã", que calculou para designar os anos com números. Credita-se a ele a referência mundialmente difundida de indicar os anos, embora seus cálculos estivessem equivocados e atrasados em 6 ou 7 anos com relação à verdadeira data do nascimento de Cristo. Daí a estranha contradição quando se menciona esse acontecimento seguido da costumeira fórmula "antes de Cristo".

Já o censo promovido por Quirino, infelizmente, não nos ajuda a estabelecer com maior precisão o ano em que Jesus nasceu. A razão disso está no caráter fragmentário das informações históricas sobre Quirino e, especialmente, no fato de que nenhuma fonte histórica menciona um recenseamento realizado no tempo de Herodes. As notícias sobre Quirino que, de alguma forma, concordam com as informações de Lucas (2:2 sobre seu governo na Síria, na época de Herodes, são fornecidas por Tácito (Anais 3:48) e por Estrabão (Geografia 12:6-5). Públio Sulplício Quirino era cônsul em 12 a.C. Depois, comandou uma guerra vitoriosa contra rebeldes omonadenses da Cilícia; obtidas as honras do triunfo, foi nomeado conselheiro de Caio César, o jovem sobrinho de Augusto encarregado do governo da Armênia, em 2 a.C. Mais tarde foi "legado de Augusto", ou seja, governador da Síria, de 6 a 12 d.C. Muitos autores afirmam que Quirino não poderia comandar uma guerra na Cilícia, se não fosse ele mesmo o governador da Síria. Daí concluem que teria sido, uma primeira vez, governador da Síria nos anos 11-9, antes de Caio Sêncio Saturnino (9-6 a.C.), ou desfrutava de autoridade semelhante. Em tais circunstâncias, teria realizado ou apenas iniciado o recenseamento de que fala Lucas. Recordemos também o fato de que Tertuliano (Contra Márcio 4:19), sem medo de contradizer a informação de Lucas 2:2, atribui a Saturnino o censo durante o qual nasceu Jesus. Alguns autores acreditam que as operações do recenseamento, indicadas por Quirino por volta de 9 a.C., foram finalizadas por Saturnino entre 8 e 6 a.C.

Em conclusão, pelo exposto até agora, o ano de nascimento de Cristo situa-se entre 9 e 6 a.C. Se muitos autores não remontam além do ano 7 a.C., é porque partem de outras considerações, em particular do dado fornecido por Lucas 3:23, segundo o qual Jesus, ao iniciar seu ministério tinha "cerca de trinta anos".







Do livro "Jesus e o Espiritismo", escrito por Valdemiro Vieira.

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