segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O Evangelho no Lar




COMO REALIZAR O EVANGELHO ESPÍRITA NO LAR!



WALLPAPER.IDS.ORG.




Evangelho no Lar

Roteiro Para Sua Realização 













As recomendações para a realização do Evangelho no Lar variam, entretanto todas obedecem a uma mesma sequência de procedimentos. 

Segue abaixo uma sugestão de roteiro, que foi elaborado com base em outros roteiros espíritas para a realização do Evangelho no Lar. No final deste, a realização de links pesquisados.


Roteiro presentemente sugerido:


1- Escolha um dia da semana e um horário que seja adequado a que todos consigam se reunir sem impedimentos. Geralmente o fim de semana é mais fácil.


  • no fim de semana temos os primeiros horários da manhã de domingo, que antecedam as Reuniões Públicas nas casas espíritas. E para os que não são espíritas (kardecistas) também as missas e reuniões públicas evangélicas. 

  • os horários de domingo relativamente avançados (à partir das 20h em diante), à noite, também são excelente convite à realização do Evangelho no lar, já que geralmente à partir desse horário as pessoas já começam a se recolher em seus lares, muitas já se preparando psicologicamente para o repouso que lhes facultará o início de uma semana de trabalho e estudo. Os horários anteriores às 20h também são válidos, entretanto os inconvenientes de compromissos fora de casa e visitações no próprio lar, telefonemas, ..., são maiores e eventuais atrapalhos para o concurso da realização do Evangelho. 

  • por isso, os que optarem pela realização do Evangelho no lar no fim de semana precisam pensar bem qual horário será mais conveniente a todos para reduzir ao máximo interferências externas à sua consecução. Assim sendo, apesar dos dias de fim de semana, sábado ou domingo, também os dias de semana a escolher, conforme a necessidade de todos. 

  • não importa se de dia ou de noite, se em dia de semana, ou no fim de semana, é necessário que se observe ainda que os aparelhos eletrônicos e de telefonia estejam devidamente desligados para evitar o inconveniente da Reunião no lar sofrer os atrapalhos: tirar da tomada o telefone, e evitar que liguem TVs, rádio e computadores antes da realização do Evangelho. 

  • com relação à campainha, como não tem meio de desconectar o jeito é ver quem é, se for membro amigo ou familiar da família, convidar à reunião, se a pessoa não aceitar marcar um outro momento para o colóquio tão necessário por motivo do Evangelho a ser realizado naquele momento. Se a pessoa não estiver com pressa ela pode ainda aguardar em outro ambiente do lar doméstico, caso queira, até que o Evangelho seja concluído. 

  • se for pessoa estranha é só ignorar e retornar ao compromisso do Evangelho. E caso a campainha toque depois de o Evangelho já ter sido iniciado o jeito é ignorar também e procurar não perder a concentração, para não dispersar em pensamentos fora do que está sendo realizado, a não ser que se trate de um membro do grupo ou convidado que se esteja aguardando que compareça. 

  • se um dos membros que geralmente participa semanalmente chegar atrasado (ou eventualmente alguém que se compromissou a participar naquela semana), em qualquer fase inicial do Evangelho, sejam parentes e amigos, recolhê-los sim para a efetuação do Evangelho com o grupo familiar. 

  • não suspender a realização do Evangelho no seu lar por motivo de visitas surpresas, compromissos que surjam agendados na semana, e outros acontecimentos. Entendendo que a ausência de algum dos componentes familiares não exime os demais de realizarem o Evangelho mesmo em se tratando de ausência dos chefes do lar (a mãe ou o pai). Claro que situações supremas poderão ocorrer, vindo sim a cancelar a realização do Evangelho no lar subitamente: um familiar que necessite urgente de atendimento socorrista em estabelecimento de saúde. 

  • quando o ente familiar não puder estar presente para a realização do Evangelho no seu lar por motivos de viagem e outros compromisso obrigatórios (trabalho, visita a um familiar doente no hospital, ...) esse ente familiar pode e deve, se for possível caso o ambiente diferenciado facilitar, realizar o Evangelho sozinho mesmo. Por esse motivo tenha à mão um exemplar do Evangelho para levar consigo nessas situações. Caso não consiga fazer o Evangelho fora de casa por essas situações tão variadas, próprias desses compromissos, eleve uma oração ao Alto procurando se ligar à Jesus pedindo por si mesmo, pelos seus, e pelos próximos. 

  • não há motivo para o casal, ou a mãe, ou o pai, com filhos muito novinhos e lactentes não poderem participar do Evangelho no lar junto ao grupo familiar do qual faz parte pelo motivo mesmo de se tratar das crianças serem muito pequenas. Pois as mesmas se forem ainda bebês poderão ser acomodadas na cadeirinha de bebê próximo à mesa (se for cozinha ou copa) ou ao próprio pai e mãe (se for na sala, garagem, churrasqueira, ou jardim da residência), entendendo que a criança não será acordada pelo Evangelho em curso já que esta embalará em gostoso sono proporcionado mesmo pela ambiência espiritual e material do recinto e da própria residência, o mesmo proporcionando as criancinhas lactentes, também acomodadas neste tipo de cadeirinha, por isso o objetivo é que elas tenham o direito de dormir durante a reunião familiar, não tendo a cadeirinha de bebê pode-se acomodá-los em cobertas bem confortantes no ambiente onde a reunião será realizada. Desse modo, nunca manter o pequenino (a) bem acomodado longe, em outro cômodo da casa, e sim, junto aos demais, pois se for acomodado em outro cômodo da residência caso a criança necessite de socorro súbito não será atendida a tempo. 


2- Defina um ambiente de sua residência onde todos possam ali ser acolhidos de maneira confortável. 

3- Coloque sobre a mesa uma jarra com água e copos, e também os livros e folhetos, que serão utilizados para a realização do Evangelho. Na falta da jarra coloque apenas os copos, cada qual com um cálice de água, em uma bandeja ou forma de cozinha. Poderá ser também utilizada, se for do agrado e necessidade de todos, a BÍBLIA*, com a utilização apenas do Novo Testamento, por conter os ensinamentos de Jesus, e o ensinamento de um Deus bom e justo. O uso da Bíblia poderá ser utilizado concomitantemente com o Evangelho espírita, aproveitando-se do Novo Testamento a leitura de pequeno trecho ao acaso após ou antes da leitura do Evangelho espírita.

4- O adentramento ao ambiente onde será feito o Evangelho deve ser feito em silêncio, em sinal de respeito ao que será realizado, já com o coração voltado a essa realização, e lembrando que os irmãozinhos do Invisível, como os Espíritos Superiores e espíritos necessitados, já estão lá.

5- O Evangelho no Lar não é uma reunião em que se deva deixar acontecer qualquer tipo de manifestação mediúnica. Os Espíritos Superiores já se fazem presentes com o objetivo único de intuir a todos, facilitando-lhes a compreensão do tema abordado durante o Evangelho, bem como levando a cada pessoa presente eflúvios e medicamentos espirituais necessários. Quanto a presença de irmãozinhos necessitados estes já estão também sendo amparados pela espiritualidade e pelos presentes que estão realizando o Evangelho, momento este em que o Lar se transforma em ambulatório do Mundo Espiritual. Por isso que os participantes precisam compreender a necessidade do respeito ao recinto onde será realizado o momento evangélico.*

6- Todas as fases do Evangelho no Lar não são um momento de prática de solenidades e rituais relativos a qualquer culto religioso e irmandades. Pois o Evangelho no Lar, como o próprio nome já diz, é o aprendizado e o relembrar dos ensinos de Jesus a serem aplicados na nossa vida. Entretanto claro é que se algum dos presentes tiver o hábito de por exemplo, fazer o sinal da cruz, isso deve ser respeitado, esse exemplo é bem aplicado a participantes que durante a semana tivermos convidado a participar do Evangelho em nossa casa e a pessoa aceitou, mediante essa situação devemos respeitar os hábitos religiosos dos visitantes em nossa casa não impondo-lhes nenhum tipo de normas quanto a esse caráter, o que já é um princípio moral espírita cristã.

7- Fazer a prece de abertura direcionada com o sentimento em família. Sendo ela pronta ou espontânea do coração, com sentimento de fé e confiança da Proteção Divina. Esse é o momento para, após a oração, cada um fazer uma mentalização em favor de alguém que conheça e esteja necessitando de amparo do Alto (pois sobre o caderno de irradiações já se compreende no meio espírita que não há necessidade, basta a mentalização, entretanto, se os chefes familiares resolverem abrir um caderninho para registrar o nome dos que precisam de amparo poderão fazê-lo), podendo assim os Benfeitores Espirituais identificar o beneficiado a distância, e levar a essa pessoa os benefícios de que necessita; e por dificuldades e/ou necessidades que você esteja passando no momento. Pois, os Benfeitores Espirituais sabem o que se passa em nossa tela mental, e em nosso coração.

  • pedir pelos membros familiares (e também convidados) que não puderam comparecer à reunião familiar para o Evangelho a ser realizado. 

  • após ou antes de se fazer a mentalização por aqueles que conhecemos e que necessitam de amparo do Alto podemos pedir também por irmãos que sofrem em todos os setores da vida no plano material, e por aqueles que sofrem nas regiões umbralinas. 

  • não podemos esquecer de pedir também por lugares, regiões do planeta, e grupos populacionais que estejam precisando desse amparo espiritual.

  • todas essas vibrações não precisam ser verbais, e sim apenas no âmbito do pensamento e do coração quando se tratar de casos individuais como vimos acima, para que a prece coletiva e individual, ambas se realizem. Assim, a oração coletiva e em voz alta, liderada por um dos membros do grupo familiar (que não necessariamente precise ser sempre a mesma pessoa semanalmente) pedirá por todos os setores das necessidades familiares, e os humanos da vida material como as lembradas acima, já quanto aos pedidos individuais não há necessidade de que o grupo ouça, pois será de foro íntimo, antecedendo ou após a prece coletiva (conforme a organização definida pelo grupo familiar), momento esse de silêncio total para que as vibrações particulares sejam possíveis. 

  • importante atermos para o detalhe de que apesar de virmos a pedir e mentalizar, por exemplo, uma pessoa ou grupo de pessoas doentes e suas doenças, lugares em guerra e destruição, calamidades geoclimáticas ..., troquemos imediatamente essa visualização mental por tudo aquilo que realmente desejamos a todos esses irmãos coletivos e individuais em sofrimento, mentalizando, por exemplo, a pessoa curada, o mundo em paz e Luz Divina, ... 


8- Várias são as formas de se definir quem do grupo familiar, ou mesmo visitante ocasional ou frequente, poderá realizar o Evangelho da semana:

  • uma das pessoas do grupo familiar se habilitará perguntar quem gostaria de fazer o Evangelho da semana. Poderá ocorrer que mais de uma pessoa se habilite, e diante desse fato os interessados deverão decidir que fará o Evangelho. 

  • ou uma das pessoas do grupo familiar será habilitado por outro presente a escolher um dos membros do grupo para fazer o Evangelho. 

  • ou será decidido que a realização do Evangelho no Lar seja feito em forma de rodízio, assim todos terão a oportunidade de fazer o Evangelho, cada um numa semana, ou apenas fazer a sua leitura para que outro faça o comentário mediante escolha do grupo familiar, que também poderá ser feito em rodízio. 

9- O comentário sobre o trecho lido do Evangelho deve ser o que entendeu, também o que sentiu em seu coração, e como aplicar o ensinamento lido na vida diária e no mundo. E pedir aos presentes que complete a reflexão. 

  • a abertura do Evangelho deve ser feita ao acaso, o que muitas vezes ocorre também com o auxílio dos Benfeitores Espirituais para isso. 

  • deve-se apenas ler um trecho do Evangelho, e não o texto todo que foi aberto ao acaso, pois um trecho apenas rende muitos ensinamentos e reflexões para a vida, e também porque ler o texto todo compromete o tempo de realização do Evangelho. 

  • se for da organização familiar ler o texto do Evangelho até o fim em posteriores realizações do Evangelho no lar pode-se trazer junto ao livro uma pequena folha onde será anotado o texto e a página do Evangelho para continuar a sua leitura na próxima semana. Com isso a abertura ao acaso da leitura do Evangelho só se fará novamente quanto a leitura anterior tiver sido finalmente concluída. Esse Evangelho assim com as marcações de sequenciamento deverá ser guardado somente para a finalidade do Evangelho no Lar, devendo ser guardado em lugar protegido de mãos e corações sequiosos de lê-lo, e deixar a disposição outro exemplar do mesmo Evangelho em lugar acessível na residência para esses corações tão interessados. 

10- Durante o comentário da leitura do Evangelho deve-se evitar polêmicas, e favorecer a que mais membros se pronunciem sobre o tema.

11- Se desejarem podem ter à mesa um livro, e/ou um folheto, de escolha prévia durante a semana, para ser aberto ao acaso e lido uma mensagem ao grupo familiar. A pessoa que for ler deverá fazer um breve comentário sobre o que foi lido, se algum dos presentes quiser fazer um comentário isso pode ser feito. Assim como no momento da leitura do Evangelho.

  • pode ser definido também que uma criança do grupo familiar, ou do visitante, leia a mensagem evangélica, tente comentar, e se não conseguir permitir a outro membro do grupo para fazê-lo. Também pode a criança apenas ler a mensagem, e outro comentar, pois a criança geralmente é muito tímida diante do grupo de pessoas mais velhas que ela. 

  • da mesma forma que na leitura do Evangelho é necessário ler apenas um trecho do texto de um livro de mensagens, aberto ao acaso, ou do folheto (poderá ter-se muitos sobre a mesa, e pegar um deles ao acaso também). E desse trecho tirar riquíssimas lições para a vida. Entretanto se a mensagem for suficientemente pequena vale a pena lê-la inteira. 

12- Em seguida todos são avisados sobre a prece de encerramento que será feita pedindo-se primeiramente pela família e a cada um de seus membros: paz, harmonia, saúde e felicidade, ... Em seguida pedindo pelos nossos irmãos menos afortunados da vida: os doentes, os que se encontram nos presídios, nos orfanatos, nos asilos, aos moradores de rua, aos que estão nascendo e aos que estão desencarnando, e a todos os demais que sofrem infortúnios ocultos. Pedir também pelos nossos irmãos desencarnados que se encontram em regiões umbralinas e que necessitam receber em seus corações a Luz Divina de amor que os ajudará a despertarem para necessidade de lembrar de Deus, e assim favorecer o resgate deles destes lugares de sofrimento.

  • como vimos mais acima o pedido por grupos de sofrimento pode ser feito no início da reunião familiar. Entretanto, se for da vontade de todos, o grupo familiar pode ter em sua organização para a realização do Evangelho pedir pelos os que sofrem no final a reunião familiar, bem como os pedidos de foro íntimo, restando à oração do início do Evangelho apenas o amparo para aquele momento Sagrado, e que todos os presentes, encarnados e desencarnados, possam estar recebendo o amparo do Alto. 

  • neste caso parece que, em se tratando de fazer-se pedidos aos que estão sofrendo calamidades coletivas, e aos diversos casos de infortúnios ocultos específicos (nos umbrais e no mundo físico) seja melhor no final para facilitar o envolvimento dos presentes com as lições do Evangelho na reunião familiar em início e em seu pleno curso. 

13- Após o encerramento servir a água já fluidificada pelos Benfeitores Espirituais.

14- O tempo suficiente e adequado para a realização do Evangelho no Lar é de entre 15 e 40 min. Portanto, dentro desse tempo não há tempo suficiente para leituras longas do Evangelho, e de um texto em seguida, e sim de um trecho de ambos. 

15- Poderão colocar música se quiserem para o momento do Evangelho, mas deverá ser uma música apenas Instrumental suave, e em baixo volume.

16- Quando o Evangelho é realizado no lar não somente a família e convidados e/ou visitas recebem os benefícios do Alto, mas também toda a comunidade circundante.




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Fontes consultadas:


1. Grupo Espírita Noel

http://evangelhodosespiritosuperiores.blogspot.com.br/2015/11/o-evangelho-no-lar.html

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XXXIV - Oficina de «Nosso Lar»*






Entre dezoito e dezenove horas, atingimos uma casa singela de bairro modesto. No longo percurso, através de ruas movimentadas, surpreendia-me, sobremaneira, por se me depararem quadros totalmente novos. Identificava, agora, a presença de muitos desencarnados de ordem inferior, seguindo os passos de transeuntes vários, ou colados a eles, em abraço singular. Muitos dependuravam-se a veículos, contemplavam-nos outros, das sacadas distantes. Alguns, em grupos, vagavam pelas ruas, formando verdadeiras nuvens escuras que houvessem baixado repentinamente ao solo. 



Assustei-me. Não havia anotado tais ocorrências nas excursões anteriores ao círculo carnal. Aniceto, porém, explicou que não fora vão o auxilio recebido para intensificação do poder visual. Estávamos em tarefa de observação ativa, com vistas ao aprendizado. 


Não dissimulava, entretanto, minha surpresa. As sombras sucediam-se umas às outras e posso assegurar que o número de entidades inferiores, invisíveis ao homem comum, não era menor, nas ruas, ao de pessoas encarnadas, em contínuo vai vem. Não havia, ali, a serenidade dos ambientes de “Nosso Lar”, nem a calma relativa do Posto de Socorro de Campo da Paz. Receios imprevistos instalavam-se-me nalma, desagradáveis choques íntimos assaltavam-me o coração, sem que lhes pudesse localizar a procedência. Tinha a impressão nítida de havermos mergulhado num oceano de vibrações muito diferentes, onde respirávamos com certa dificuldade. Nosso instrutor esclarecia que, com o tempo, seriam dilatados nossos poderes de resistência e que as penosas sensações experimentadas obedeciam à circunstância de ser aquela a primeira vez que descíamos ao ambiente da Crosta em serviço de análise mais intenso. Recomendava-nos bom ânimo e, sobretudo, a conservação da fortaleza mental, ante quaisquer quadros menos estimáveis que nos defrontassem de imprevisto. A eficiência do auxílio, exclamava ele, necessita educação persistente. Não seria possível ajudar alguém, prendendo-nos a fraquezas de qualquer espécie. 

Os conselhos de Aniceto acalmavam-nos a alma surpreendida e inquieta, e eu tudo fazia, no íntimo, para ajustar-me aos alvitres do bondoso orientador, mesmo porque, asseverava ele, que diversos companheiros adiavam nobres realizações em virtude das manifestações de injustificável receio. 

Aquela residência de aspecto tão humilde, que alcançávamos, agora, proporcionava-me caridosa impressão de conforto. Estava lindamente iluminada por clarões espirituais, que recordavam precisamente nossa cidade tão distante. Fundamente surpreendido, reparei que o nosso orientador se detivera. Notando a nossa admiração, Aniceto indicou a casa pobre, e falou: 

— Teremos aqui o nosso refúgio. É uma oficina que representa “Nosso Lar”. 

Profundo assombro empolgou o íntimo, mas não tive ensejo para indagações. Precisava seguir o Instrutor, que tomara a direção da casa pequenina. Aproximamo-nos do jardim que rodeava a construção muito simples e, estupefato, observei que numerosos companheiros espirituais assomavam à janela, saudando-nos alegremente. 

Que significava tudo aquilo? De outras vezes, visitara minha cidade e meu antigo lar, mas nunca vira tal coisa. 

Aniceto compreendeu-me a perplexidade e explicou: 

— Os irmãos que nos saúdam são trabalhadores espirituais que se abrigam nesta tenda de amor. 

Um cavalheiro muito simpático e acolhedor abriu-nos a porta. 

Este pormenor foi outra nota imprevista. Tal não sucedia quando voltava à minha velha casa terrena. As portas cerradas não me ofereciam obstáculos. Ali, porém, vigorava um sistema vibratório de vigilância que eu não conhecia, até então. 

Nosso instrutor envolveu o anfitrião num abraço amistoso, apresentando-nos em seguida. 

— Aqui, meu caro Isidoro — disse a indicar-nos, carinhoso —, são nossos amigos Vicente e André, novos cooperadores de serviço, em “Nosso Lar”. 
— Muito bem! muito bem! — exclamou Isidoro abraçando-nos — nossas atividades precisam de trabalhadores operosos. Entrem! 

E acrescentou, hospitaleiro: 

— A casa pertence a todos os cooperadores fiéis do serviço cristão. 

Era a primeira vez que eu via uma entidade espiritual com tão segura chefia de uma casa terrestre. 

Penetramos o ambiente modesto. 

Altamente surpreendido, reparei o interior. À paisagem material mostrava alguns móveis singelos, velhos quadros a óleo nas paredes alvas, velha máquina de costura movimentada por uma jovem aparentando dezesseis anos, um rapazote de doze anos presumíveis, atento a cadernetas de exercício escolar, três crianças de nove, sete e cinco anos aproximadamente, e, como figura central do grupo doméstico, uma senhora de quarenta anos, mais ou menos, tricotando uma blusa. Notei, porém, que da fronte, do tórax, do olhar e das mãos dessa senhora irradiava-se luz incessante que me não permitia sofrear minhas expressões admirativas. 

Aniceto designou-a, respeitoso, e falou: 

— Temos, aqui, a nossa irmã Isabel. Para os olhos humanos ela é a viúva de Isidoro, mas para nós é uma servidora leal nas atividades da fé. 

Reparei que Dona Isabel parecia, de algum modo, registrar a nossa presença, acusando certa surpresa no olhar, mas Aniceto adiantou-se, esclarecendo: 

— Nossa amiga é senhora de grande vidência psíquica, mas os benfeitores que nos orientam os esforços recomendam não se lhe permita a visão total do que se passa em torno de suas faculdades mediúnicas. O conhecimento exato da paisagem espiritual, em que vive, talvez lhe prejudicasse a tranqüilidade. Isabel, portanto, apenas pode ver, mais ou menos, a vigésima parte dos serviços espirituais em que colabora, de modo direto... 

A essa altura, Isidoro nos indicou pequena sala ao lado, e falou a Aniceto em particular: 

— Desculpem-me se não lhes posso acompanhar no repouso necessário. Descansem, contudo, à vontade. Tenho serviços urgentes na recepção de outros amigos. 

Nosso mentor agradeceu, comovidamente, e, acompanhando-o, alcançamos modesto salão pobremente mobiliado, mas quase repleto de entidades evolvidas em conversação edificante. 

Confortadoras luzes brilhavam em todos os recantos. Havia ali um velho relógio, tosca mesa de grandes proporções, uma dúzia de cadeiras e alguns bancos rústicos. 

A claridade espiritual reinante, todavia, era de maravilhoso efeito. Muita gente esclarecida e generosa do plano invisível aos humanos aí se reunia. Aniceto cumprimentou os grupos que lhe eram mais íntimos, de modo especial, e apresentou-nos com a bondade de sempre. 

Sentindo-nos a admiração, esclareceu, quando nos vimos mais a sós num canto do salão: 

— Estamos numa oficina de “Nosso Lar”. Isidoro e Isabel edificaram-na, num ato de heroísmo e fé, tendo saído de nossa cidade para essa tarefa, vai para mais de quarenta anos. Graças a Deus ambos têm vencido, galhardamente, árduas provas, e mantêm seus compromissos corajosamente, em serviço na Crosta. Há três anos, voltou ele para nossa esfera, e contudo, graças ao altruísmo da esposa e aos vínculos de amor espiritual que conservam acima de todas as expressões físicas, continuam estreitamente unidos, como no primeiro dia do reencontro na existência material. Dada esta circunstância invulgar, as autoridades de “Nosso Lar” concederam-lhe permissão para continuar nesta casa como esposo amigo, pai devotado, sentinela vigilante e trabalhador fiel. 

E, observando talvez a nossa maior surpresa, Aniceto acrescentou: 

— Sim, amigos, o acaso não define responsabilidades nem atende a construção séria. A edificação espiritual pede esforço e dedicação. Assim como os navios do mundo necessitam de âncoras fortes para atenderem eficientemente à sua tarefa nos portos, também nós precisamos de irmãos corajosos e abnegados que façam o papel de âncoras entre as criaturas encarnadas, a fim de que, por elas, possam os grandes benfeitores da Espiritualidade Superior se fazerem sentir entre os homens ainda animalizados, ignorantes e infelizes. 




XXXV - Culto doméstico



Nas primeiras horas da noite, Dona Isabel abandonou a agulha e convidou os filhinhos para o culto doméstico. 

Notando o interesse que me despertavam as crianças, Aniceto explicou:

— As meninas são entidades amigas de “Nosso Lar”, que vieram para serviço espiritual e resgate necessário, na Terra. O mesmo, porém, não acontece ao pequeno, que procede de região inferior. 

De fato, eu identificava perfeitamente a situação. O rapazola não se revestia de substância luminosa e atendia ao convite materno, não como quem se alegra, mas como quem obedece. 

Com tamanha naturalidade se sentaram todos em torno da mesa, que compreendi a antiguidade daquele abençoado costume familiar. A filha mais velha, que atendia por Joaninha, trazia cadernos de anotações e recortes de jornais. 

A viúva sentou-se à cabeceira e, após meditar breves instantes, recomendou à pequena Neli, de nove anos, fizesse a oração inicial do culto, pedindo a Jesus o esclarecimento espiritual.

Todos os trabalhadores invisíveis sentaram-se, respeitosos. Isidoro e alguns companheiros mais íntimos do casal permaneceram ao lado de Dona Isabel, sendo quase todos vistos e ouvidos por ela.

Tão logo começou aquele serviço espiritual da família, as luzes ambientes se tornaram muito mais intensas. 

Profunda sensação de paz envolvia-me o coração. 

A pequena Neli, em voz comovente, fez a prece: 

— Senhor, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus. Se está em vosso santo desígnio que recebamos mais luz, permiti, Senhor, tenhamos bastante compreensão no trabalho evangélico! Dai-nos o pão da alma, a água da vida eterna! Sede em nossos corações, agora e sempre. Assim seja!... 

Dona Isabel pediu à filha mais velha lesse uma página instrutiva e consoladora e, em seguida, algum fato interessante do noticiário comum, ao que Joaninha atendeu, lendo pequeno capitulo de um livro doutrinário sobre a irreflexão, e um episódio triste de jornal leigo. A primogênita de Isidoro, que revelava muita doçura e afabilidade, parecia impressionada. Tratava-se de uma jovem de bairro distante, vítima de suicídio doloroso. O repórter gravara a cena com característicos muito fortes. A leitora estava trêmula, sensibilizada.

Assim que Joaninha terminou, Dona Isabel abriu o Novo Testamento, como se estivesse procedendo ao acaso, mas, em verdade, eu via que Isidoro, do nosso plano, intervinha na operação, ajudando a localizar o assunto da noite. A seguir, fixou o olhar na página pequenina e falou: 

— A mensagem-versículo de hoje, meus filhos, está no capítulo 13 do Evangelho de S. Mateus. 

E lendo o versículo 31, fê-lo em voz alta: 

— “Outra parábola lhes propôs, dizendo: — O Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu campo.” 

Observei, então, um fenômeno curioso. Um amigo espiritual, que reconheci de nobilíssima condição, pelas vestes resplandecentes, colocou a destra sobre a fronte da generosa viúva.

Antes que lhe perguntasse, Aniceto explicou em voz quase imperceptível:

— Aquele é o nosso irmão Fábio Aleto, que vai dar a interpretação espiritual do texto lido. Os que estiverem nas mesmas condições dele, poderão ouvir-lhe os pensamentos; mas, os que estiverem em zona mental inferior, receberão os valores interpretativos, como acontece entre os encarnados, isto é, teremos a luz espiritual do verbo de Fábio na tradução do verbo materializado de Isabel.

Nosso mentor não poderia ser mais explícito. Em poucas palavras fornecera-me a súmula da extensa lição.

Notei que a viúva de Isidoro entrara em profunda concentração por alguns momentos, como se estivesse absorvendo a luz que a rodeava. Em seguida, revelando extraordinária firmeza no olhar, iniciou o comentário:

— “Lemos hoje, meus filhos, uma página sobre a irreflexão e a notícia de um suicídio em tristíssimas circunstâncias. Afirma o jornal que a jovem suicida se matou por excessivo amor; entretanto, pelo que vimos aprendendo, estamos certos de que ninguém comete erros por amar verdadeiramente. Os que amam, de fato, são cultivadores da vida e nunca espalham a morte. A pobrezinha estava doente, perturbada, irrefletida. Entregou-se à paixão que confunde o raciocínio e rebaixa o sentimento. E nós sabemos que, da paixão ao sofrimento, ou à morte, não é longa a distância. Lembremos, todavia, essa amiga desconhecida, com um pensamento de simpatia fraternal. Que Jesus a proteja nos caminhos novos. Não estamos examinando um ato, que ao Senhor compete julgar, mas um fato, de cuja expressão devemos extrair o ensinamento justo. 

A mensagem evangélica desta noite assevera, pela palavra do nosso Divino Mestre aos discípulos, que o reino dos céus é também “semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu coração”. Devemos ver, neste passo, meus filhos, a lição das coisas mínimas. A esfera carnal onde vivemos está repleta de irreflexões de toda sorte. Raras criaturas começam a refletir seriamente na vida e nos deveres, antes do leito da morte física. Não devemos fixar o pensamento tão só nessa jovem que se suicidou em condições tão dramáticas, ao nos referirmos aos ensinos de agora. Há homens e mulheres, com maiores responsabilidades, em todos os bairros, que evidenciam paixões nefastas e destruidoras no campo dos sentimentos, dos negócios, das relações sociais. As mentes desequilibradas pela irreflexão permanecem, neste mundo, quase por toda a parte. É que nós temos descuidado das coisas pequeninas. Grande é o oceano, minúscula é a gota, mas o oceano não é senão a massa das gotas reunidas. Fala-nos o Mestre, em divino simbolismo, da semente de mostarda. Recordemos que o campo do nosso coração está cheio de ervas espinhosas, demorando, talvez, há muitos séculos, em terrível esterilidade. Naturalmente, não deveremos esperar colheitas milagrosas. É indispensável amanhar a terra e cuidar do plantio. A semente de mostarda, a que se refere Jesus, constitui o gesto, a palavra, o pensamento da criatura. Há muitas pessoas que falam bastante em humildade, mas nunca revelam um gesto de obediência. Jamais realizaremos a bondade, sem começarmos a ser bons. Alguma coisa pequenina há de ser feita, antes de edificarmos as grandes coisas. O Senhor ensinou, muitas vezes, que o reino dos céus está dentro de nós. Ora, é portanto em nós mesmos que devemos desenvolver o trabalho magnânimo de realização divina, sem o que não passaremos de grandes irrefletidos. A floresta também começou de sementes minúsculas. E nós, espiritualmente falando, temos vivido em densa floresta de males, criados por nós mesmos, em razão da invigilância na escolha de sementes espirituais. A palestra de uma hora, o pensamento de um dia, o gesto de um momento, podem representar muito em nossas vidas. Tenhamos cuidado com as coisas pequeninas e selecionemos os grãos de mostarda do reino dos céus. Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que “pegarmos’ desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-os no campo íntimo, receberemos do Senhor todo o auxílio necessário. Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor eterno, a vitalidade sublime da esfera superior. Nossa semeadura crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações. Aprendamos, meus filhos, a ciência de começar, lembrando a bondade de Jesus a cada instante. O Mestre não nos desampara, segue-nos amorosamente, inspira-nos o coração. Tenhamos, sobretudo, confiança e alegria!” 

Reparei que Fábio retirou a mão da fronte da viúva e observei que ela entrava a meditar, como quem sentira o afastamento da idéia em curso.

Havia grande comoção na assembléia invisível às crianças que, por sua vez, também pareciam impressionadas. 

Dona Isabel voltou a contemplar maternalmente os filhos, e falou: 

— Procuremos, agora, conversar um pouco.




XXXVI - Mãe e filhos



No comentário evangélico, eu recolhia observações interessantes. Tal como no caso de Ismália, quando lhe ouvíamos a sublime melodia, a interpretação de Fábio estava cheia de maravilhas espirituais que transcendiam à capacidade receptiva de Dona Isabel. À viúva de Isidoro parecia deter tão somente uma parte. 

Desse modo, as crianças recebiam a lição de acordo com as possibilidades mediúnicas da palavra materna, enquanto que a nós outros se propiciava o ensinamento com maravilhoso conteúdo de beleza. Sempre solícito, o instrutor esclareceu: 

— Não se admirem do fenômeno! Cada qual receberá a luz espiritual conforme a própria capacidade. Há muitos companheiros nossos, aqui reunidos, que registram o comentário de Fábio com mais dificuldade que as próprias crianças. Experimentam, ainda, grandes limitações. 

Havia grande respeito em todos os desencarnados presentes. 

Fábio Aleto sentou-se em plano superior, ao passo que Isidoro se acomodava junto a sua esposa, no impulso afetivo do pai que se aproxima, solícito, para a conversação carinhosa com os filhos bem-amados. 

Nesse instante, a pequenina Marieta, que parecia haver atingido os sete anos, aproveitando o momento de palavra livre, perguntou à mãezinha, em tom comovedor: 

— Mamãe, se Jesus é tão bom, porque estamos comendo só uma vez por dia, aqui em casa? Na casa de Dona Fausta, eles fazem duas refeições, almoçam e jantam. Neli me contou que no tempo de papai também fazíamos assim, mas agora. Por que será? 

A viúva esboçou um sorriso algo triste e falou: 

— Ora, Maneta, você vive muito impressionada com essa questão. Não devemos, filhinha, subordinar todos os pensamentos às necessidades do estômago. Há quanto tempo estamos tomando nossa refeição diária e gozando boa saúde? Quanto benefício estaremos colhendo com esta frugalidade de alimentação? 

Joaninha interveio, acrescentando: 

— Mamãe tem toda a razão. Tenho visto muita gente adoecer por abuso da mesa. 
— Além disso — acentuou Dona Isabel confortada — vocês devem estar certos de que Jesus abençoa o pão e a água de todas as criaturas que sabem agradecer as dádivas divinas. É verdade que Isidoro partiu antes de nós, mas nunca nos faltou o necessário. Temos nossa casinha, nossa união espiritual, nossos bons amigos. Convençam-se de que o papai está trabalhando ainda por nós. 

Nessa altura da palestra, dada a nossa comoção, Isidoro enxugou os olhos úmidos. 

Noemi, a caçula pequenina, falou em voz infantil: 

— É mesmo, é verdade! eu vi papai ajudando a segurar o bolo que Dona Cora nos trouxe domingo. 
— Também vi, Noemi — disse Dona Isabel, de olhos vivamente brilhantes —, papai continua auxiliando-nos. 

E voltando-se para todos, acentuou: 

— Quando sabemos amar e esperar, meus filhos, não nos separamos dos entes queridos que morrem para a vida física. Tenhamos certeza na proteção de Jesus!... 

Marieta, parecendo agora absolutamente tranqüila, assentiu: 

— Quando a senhora fala, mamãe, eu sinto que tudo é verdade! Como Jesus é bom! E se nós não tivéssemos a senhora? Tenho visto os pequenos mendigos abandonados. Talvez não comam coisa alguma, talvez não tenham amigos como os nossos! Ah! como devemos ser agradecidos ao Céu!... 

A viúva, que se confortava visivelmente, ouvindo aquelas palavras, exclamou com profunda emoção: 

— Muito bem, minha filha! Nunca deveremos reclamar e sim louvar sempre. E possivelmente não saberia você compreender a situação, se estivéssemos em mesas lautas. 

Observei, porém, que o menino não compartilhava aquele dilúvio de bênçãos. Entre Dona Isabel e as quatro filhinhas havia permuta constante de vibrações luminosas, como se estivessem identificadas no mesmo ideal e unidas numa só posição; mas o rapazote permanecia espiritualmente distante, fechado num círculo de sombras. De quando em quando, sorria irônico, insensível pela significação do momento. Valendo-se da pausa mais longa, ele perguntou à genitora, menos respeitosamente: 

— Mamãe, que entende a senhora por pobreza? 

Dona Isabel respondeu, muito serena: 

— Creio, meu filho, que a pobreza é uma das melhores oportunidades de elevação, ao nosso alcance. Estou convencida de que os homens afortunados têm uma grande tarefa a cumprir, na Terra, mas admito que os pobres, além da missão que lhes cabe no mundo, são mais livres e mais felizes. Na pobreza, é mais fácil encontrar a amizade sincera, a visão da assistência de Deus, os tesouros da natureza, a riqueza das alegrias simples e puras. É claro que não me refiro aos ociosos e ingratos dos caminhos terrenos. Refiro-me aos pobres que trabalham e guardam a fé. O homem de grandes possibilidades financeiras muito dificilmente saberá discernir entre a afeição e o interesse descrente de que tudo pode, nem sempre como entender a divina proteção; pelo conforto viciado a que se entrega, as mais das vezes se afasta das bênçãos da Natureza; e em vista de muito desfazer aos próprios caprichos, restringe a vida de alegrar-se e confiar no mundo. 

Apesar da beleza profunda daquela opinião, o rapazola permaneceu impassível, respondendo algo contrariado: 

— Infelizmente não posso concordar com a senhora. Até os garotos do jardim de infância pensam de modo contrário. 

Dona Isabel mudou a expressão fisionômica, assumiu a atitude de quem instrui com a noção de responsabilidade, e acentuou: 

— Não estamos aqui num jardim de infância, meu filho. Sim no jardim do lar, competindo-nos saber que as flores são sempre belas, mas que a vida não pode prosseguir sem a bênção dos frutos. Por onde aí no mundo, receberemos muitos alvitres da mentira venenosa. É preciso vigiar o coração, valorizando as bênçãos que Jesus nos envia. 

O rapazinho entretanto demonstrando enorme rebeldia íntima, tornou: 

— A Senhora não considera razoável alugar este salão a fim de termos algum dinheiro a mais? Estive conversando ontem, com o “seu” Maciel, quando vim da escola. Ele nos pagaria bem, para ter aqui um depósito de móveis. 

Dona Isabel, de ânimo decidido, respondeu com energia, sem irritação:

— Você deve saber, meu filho que enquanto respeitarmos a memória de seu pai, este salão será consagrado às nossas atividades evangélicas. Já lhes contei a história do nosso culto doméstico e não desejo que vocês sejam cegos às bênçãos do Senhor. Mais tarde, Joãozinho, quando você entrar diretamente na luta material, se for agradável ao seu temperamento, construa casas para alugar; mas agora, meu filho, é indispensável que você considere este recanto como algo de sagrado para sua mamãe. 
— E se eu insistir? — perguntou, mal humorado, o pequeno orgulhoso. 

A viúva, muito calma, esclareceu firme: 

— Se você insistir, será punido, porque eu não sou mãe para criar ilusões perigosas ao coração dos filhinhos que Deus me confiou. Se muito amo a vocês, precisarei incliná-los ao caminho reto. 

O pequeno quis retrucar, mas a luz emitida pelo tórax de Dona Isabel, ao que me pareceu, confundiu-lhe o espírito rebelde e vi-o calar-se, a contragosto, amuado e enraivecido. Admirei, então, profundamente, aquela bondosa mulher, que se dirigia à filha mais velha como amiga, às filhinhas mais novas como mãe, e ao filho orgulhoso como instrutora sensata e ponderada. 

Aniceto, que também se mostrava satisfeito, disse-nos em tom significativo: 

— O Evangelho dá equilíbrio ao coração. 

A pequena Neli, amedrontada, pediu, humilde: 

— Mamãe, não deixe Joãozinho alugar a sala! 

A viúva sorriu, acariciou o rostinho da filha e asseverou: 

— Joãozinho não fará isso, saberá compreender a mamãe. Não falemos mais neste assunto, Neli. 

E fixando o relógio, dirigiu-se à primogênita: 

— Joaninha, minha filha, ore agradecendo, em nosso nome. Nosso horário está findo. 

A jovem, com expressão nobre e carinhosa agradeceu ao Senhor, tocando-nos os corações.





XXXVII - No santuário doméstico





Terminado o culto familiar, um dos companheiros também rendeu graças. 

— Esperemos que esses celeiros de sentimentos se multipliquem — disse Aniceto, sensibilizado. O mundo pode fabricar novas indústrias, novos arranha-céus, erguer estátuas e cidades, mas, sem a bênção do lar, nunca haverá felicidade verdadeira. 
— Bem-aventurados os que cultivam a paz doméstica — exclamou uma senhora simpática, que estivera presente ao nosso lado, durante a reunião. 

Dois cooperadores de “Nosso Lar” serviram-nos alimentação leve e simples, que não me cabe especificar aqui, por falta de termos analógicos. 

— Em oficinas como esta — explicou o instrutor amigo — é possível preservar a pureza de nossas substâncias alimentícias. Os elementos mais baixos não encontram, neste santuário, o campo imprescindível à proliferação. Temos bastante luz para neutralizar qualquer manifestação da treva. 

E, enquanto a família humana de Isidoro fazia frugal refeição de chá com torradas, numa saleta próxima, fazíamos nós ligeiro repasto, entremeado de palestra elevada e proveitosa. 

O ambiente continuou animado, em teor de franca alegria. 

Depois das vinte e três horas, a viúva recolheu-se com os filhos, em modesto aposento. 

Intraduzível a nossa sensação de paz. 

Aniceto, Vicente e eu, em companhia doutros amigos, fomos ao pequeno jardinzinho que rodeava a habitação. 

As flores veludosas rescendiam. A claridade espiritual ambiente, como que espancava as sombras da noite. 

Respirando as brisas caridosas que sopravam da Guanabara, reparei, pela primeira vez, no delicado fenômeno, que não havia observado até então. Uma pequena carinhosa, enquanto a mãezinha palestrava com um amigo, despreocupadamente, colheu um cravo perfumoso, num grito de alegria. Vi a menina colher a flor, retirá-la da haste, ao mesmo tempo que a parte material do cravo emurchecia, quase de súbito. A senhora repreendeu-a, com calor: 

— Que é isso, Regina? Não temos o direito de perturbar a ordem das coisas. Não repitas, minha filha! Desgostaste a mamãe! 

Aniceto, sorrindo bondoso, explicou discreta mente: 

— Esta é a nossa Irmã Emilia, servidora em “Nosso Lar”, que vem ao encontro do esposo ainda encarnado. 
— E ele virá até aqui? — interrogou Vicente, curioso. 
— Virá pelas portas do sono físico — acrescentou nosso orientador, sorridente. — Estas ocorrências, no círculo da Crosta, dão-se aos milhares, todas as noites. Com a maioria de irmãos encarnados, o sono apenas reflete as perturbações fisiológicas ou sentimentais a que se entregam; entre tanto, existe grande número de pessoas que, com mais ou menos precisão, estão aptas a desenvolver este intercâmbio espiritual. 

Estava surpreendido. Aquele trabalho interessante, a que nos trazia Aniceto, com tão vasto campo de serviços gerais, fazia-me intensamente feliz. Em cada canto pressentia atividades novas. 

Embora as luzes que nos rodeavam, notei que os céus prometiam aguaceiros próximos. As brisas leves transformavam-se, repentinamente, em ventania forte. Não obstante, as sensações de sossego eram agradabilíssimas. 

— O vento, na Crosta, é sempre uma bênção celeste — exclamou Aniceto, sentencioso. — Podemos avaliar-lhe o caráter divino, em virtude da nossa condição atual. A pressão atmosférica sobre os Espíritos encarnados é, aproximadamente, de quinze mil quilos. 
— Todavia, é interessante notar — aduziu Vicente — que não sentimos tamanho peso sobre os ombros. 
— É a diferença dos veículos de manifestação — esclareceu Aniceto, atencioso. — Nossos corpos e os de nossos companheiros encarnados apresentam diversidade essencial. Imaginemos o círculo da Crosta como um oceano de oxigênio. As criaturas terrestres são elementos pesados que se movimentam no fundo, enquanto nós somos as gotas de óleo, que podem voltar à tona, sem maiores dificuldades, pela qualidade do material de que se constituem. 

A essa altura do esclarecimento, notei que formas sombrias, algumas monstruosas, se arrastavam na rua, à procura de abrigo conveniente. Reparei, com espanto, que muitas tomavam a nossa direção, para, depois de alguns passos, recuarem amedrontadas. Provocavam assombro. Muitas, pareciam verdadeiros animais perambulando na via pública. Confesso que insopitável receio me invadira o coração. 

Calmo, como sempre, Aniceto nos tranqüilizou: 

— Não temam — disse. Sempre que ameaça tempestade, os seres vagabundos da sombra se movimentam procurando asilo. São os ignorantes que vagueiam nas ruas, escravizados as sensações mais fortes dos sentidos físicos. Encontram-se ainda colados às expressões mais baixas da experiência terrestre e os aguaceiros os incomodam tanto quanto ao homem comum, distante do lar. Buscam, de preferência, as casas de diversão noturna, onde a ociosidade encontra válvula nas dissipações. Quando isto não se lhes torna acessível, penetram as residências abertas, considerando que, para eles, a matéria do plano ainda apresenta a mesma densidade característica. 

E, demonstrando interesse em valorizar a lição do minuto, acrescentou: 

— Observem como se inclinam para cá, fugindo, em seguida, espantados e inquietos. Estamos colhendo mais um ensinamento sobre os efeitos da prece. Nunca poderemos enumerar todos os benefícios da oração. Toda vez que se ora num lar, prepara-se a melhoria do ambiente doméstico. Cada prece do coração constitui emissão eletromagnética de relativo poder. Por isso mesmo, o culto familiar do Evangelho não é tão só um curso de iluminação interior, mas também processo avançado de defesa exterior, pelas claridades espirituais que acende em torno. O homem que ora traz consigo inalienável couraça. O lar que cultiva a prece transforma-se em fortaleza, compreenderam? As entidades da sombra experimentam choques de vulto, em contacto com as vibrações luminosas deste santuário doméstico, e é por isso que se mantêm à distância, procurando outros rumos... 

Daí a momentos, penetrávamos, de novo, no salão abençoado da modesta residência. 

Como quem estivesse atravessando um país de surpresas, outro fato me despertava profunda admiração. 

Isidoro e Isabel vieram a nós, de braços entrelaçados, irradiando ventura. Aquela viúva pobre do bairro humilde vestia-se agora lindamente, não obstante a adorável singeleza de sua presença. Sorria contente, ao lado do esposo, via-nos a todos, cumprimentava-nos, amável. 

— Meus amigos — disse ela, serena — meu marido e eu temos uma excursão instrutiva para esta noite. Deixo-lhes as nossas crianças por algumas horas e, desde já, lhes agradeço o cuidado e o carinho. 
— Vá, minha filha! — respondeu uma senhora idosa — aproveite o repouso corporal. Deixe os meninos conosco. Vá tranqüila! 

O casal afastou-se com a expressão dum sublime noivado. Nosso orientador inclinou-se para nós e falou: — Observam vocês como a felicidade divina se manifesta no sono dos justos? Poucas almas encarnadas, conheço, com a ventura desta mulher admirável, que tem sabido aprender a ciência do sacrifício individual. 




XXXVIII - Atividade plena




No salão acolhedor de Dona Isabel, permanecemos em plena atividade. Lá fora, começara o aguaceiro forte, mas tínhamos a nítida impressão de grande distância da chuva torrencial. 

Logo às primeiras horas da madrugada, o movimento intensificou-se. Muita gente ia e vinha. 

— Numerosos irmãos — explicou o orientador — encontram-se neste pouso de trabalho espiritual, na esfera a que os encarnados chamariam sonho. Não é fácil transmitir mensagens de teor instrutivo, nessa tarefa, utilizando lugares comuns, contaminados de matéria mental menos digna. Nas oficinas edificantes, porém, onde conseguimos acumular maiores quantidades de forças positivas da espiritualidade superior, é possível prestar grandes benefícios aos que se encontram encarnados no planeta. 

Acentuei minhas observações, verificando que muitas das pessoas recém-chegadas pareciam convalescentes, titubeantes... Algumas se mantinham de pé, sob o amparo de braços carinhosos. Eram os amigos encarnados a se valerem do desprendimento parcial, pelo sono físico, que se reuniam a nós, aproveitando o auxílio de entidades generosas e dedicadas. Reconhecia, entretanto, que a maior parte não entendia, com precisão, o que se lhes desejava dizer. Muitos pareciam doentes, incompreensivos. Sorriam infantilmente, revelando boa vontade na recepção dos conselhos, mas grande incapacidade de retenção. Eu estudava os quadros ambientes, com justa estranheza. Sempre cuidadoso, Aniceto veio ao encontro de nossa perplexidade. 

— Os espíritos encarnados — disse — tão logo se realize a consolidação dos laços físicos, ficam submetidos a imperiosas leis dominantes na Crosta. Entre eles e nós existe um espesso véu. É a muralha das vibrações. Sem a obliteração temporária da memória, não se renovaria a oportunidade. Se o nosso campo lhes fora francamente aberto, olvidariam as obrigações imediatas, estimariam o parasitismo, prejudicando a própria evolução. Eis porque raramente estão lúcidos ao nosso lado. Na maioria dos casos, junto de nós, permanecem vacilantes, enfraquecidos... Vejam aquela jovem senhora encarnada, em conversa com a vovozinha que trabalha conosco, em “Nosso Lar”. 

Assim dizendo, Aniceto indicou um grupo mais próximo. 

A anciã, de olhos brilhantes e gestos decididos, abraçava-se à neta, lânguida e palidíssima. 


(...)(sic!)*


* A obra de André Luiz com o intervalo transcrito acima é pertencente a edição antiga, e portanto tem obediência às Normas Gramaticais anteriores às normas atuais vigentes e possivelmente constantes nas edições atualizadas da série André Luiz.

Este extenso trecho foi extraído da obra mediúnica "Os Mensageiros", ditada pelo espírito André Luiz, por meio da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.

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Os Mensageiros







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